quarta-feira, setembro 20, 2006

Começar a escrever - (2ª e última parte)

"Um dos sintomas de ser livre é ver o mundo preso.

A memória é suficiente para guardar coisas que me esqueci.

Por hoje começo a ficar cansado de escrever, aliás estou só a começar.

Já passaram uns dias e eu já vivi tantas coisas. Assusta-me saber que aqui só passou um espaço em branco.

Os que se defendem atacando não têm paciência nenhuma.
Os que atacam defendendo-se perderam a paciência toda.

É lindo saber que quanto mais pessoas me conhecem mais vezes eu sou.

Conhecer bem uma pessoa é saber o que ela disse não o que vai dizer.

Não consigo escrever nada que me deixe feliz, quero escrever algo para mostrar o quanto eu estou triste.

Nascemos todos os dias e só nos apercebemos disso no dia seguinte.

Tive uma ideia, vou contar-vos uma coisa.

O outro dia sai deste mundo e vivi algo com o tempo. Enquanto caminhava livre encontrei dois senhores , aproximei-me e reparei que puxavam uma corda infinita, cada um para seu lado, fiquei ali e por de traz de mim ouvi “E viva o senhor futuro” quando me voltei ali estava um velho, marreco , de fumo na boca, bem rugoso a olhar através de mim para aquela competição, perguntei lhe ,quem são aqueles ?
Um é o senhor futuro e outro é o senhor passado.
Então mas que corda é aquela que puxam?
A corda do verdadeiro tempo amigo .

Voltei me para a competição e nada daquilo parecia fazer sentido, como seria possível estar o senhor passado e o senhor futuro, os dois numa competição onde situados opostamente puxavam uma corda do tempo. O senhor passado tinha mais força e puxava sempre um bocadinho mais da corda para ele. Estava a ficar confuso, então sendo a corda infinita nenhum deles iria ganhar e por mais corda que o senhor passado puxasse ao senhor futuro mais corda ele tinha para lhe dar. Mas que competição estúpida, pensando melhor aquilo só deixaria de ser estúpido se deixasse de ser competição, pois afinal deixei me levar pela primeira aparência da situação, dois senhores a fazer esforços em sentidos opostos só poderia ser competição mas não , não era , toda a competição tem um vencedor e um derrotado no fim e neste caso isso nunca aconteceria. Fiquei ali a pensar e decidi perguntar ao velho qual era o objectivo daqueles dois senhores.
O objectivo menino, o objectivo é passar tempo.

Acordei com esta história na cabeça o outro dia, não sei bem se foi assim, estava atrasado para a minha vida.

Estive vários traços de tempo sem escrever uma única palavra, o que aconteceu as palavras que eu poderia ter escrito?

Desci as escadas e procurei a saída, o mundo estava quieto à espera de me ver sair. Abro a porta e de repente tudo se começa a mover em torno da loucura que é o eixo da realidade, não percebi a sequencia que me levou a pensar isto mas continuei e percebi que é na continuação que está o segredo eterno da vida.

Se tudo fosse tão fácil como regar um pedaço de carne e não o ver crescer mais, não, se tudo fosse tão difícil como cortar em quatro o fio de uma navalha afiada eu iria compreender que à minha volta estou eu e depois sim, estou eu outra vez.

Depois de um fim-de-semana de abstracção minha, voltei para esta gravidade que me faz sentir o quanto pesado eu sou e o quanto leve é esta realidade que me prende aqui. Gravidade esta que me faz pensar na realidade em que vivo.

Tenho saudades de um amigo que conheci quando era mais novo, não o tento procurar porque tenho outras prioridades que fazem com que fique quieto e por vezes, lá aparece ele e aleija-me na minha mente provocando esta saudade que recorda o tempo em que eu sonhava ser o que não sou hoje.

Hoje sinto que sim e penso que não.

Não tenho escrito nada, penso sobre o universo.

E é sobre o universo que vos quero falar."


By Julien Passinhas

17 comentários:

Andreia disse...

bonito.

Beijinho

Nunovsky disse...

Fascinante. Li e reli e gostei :)

Muito bem :)

Eli disse...

Benvinda! As viagens fazem sempre muito bem! Aprendemos sempre coisas novas!

Este texto é interessante. Eu costumo dizer algo que, embora não seja original, descobri sozinha

"O TEMPO NÃO EXISTE"

Espero que sejas sempre tu mesma e acredites na mudança. Nós não seremos perfeitos, pois isso não faz parte de ser humano, mas, então, sejamos humanos o melhor que conseguirmos!!!

:)

Bruno Mann disse...

Fiquei rendido e preso á tua escrita, então a história dos velhos é fabulosa, muita qualidade, transportas a minha alma para sitios interessantes, por isso OBRIGADO.

Abraços

Archeogamer disse...

Excelente visão para um não menos excelente texto.

Archeogamer disse...

Excelente visão para um não menos excelente texto.

margusta disse...

Querida Ana,
...venho deixar-te um beijinho, volto mais tarde com mais tempo para puder ler com atenção os dois posts...

Deixo-te o meu :))) e até logo!

Unknown disse...

Não me lembro de não ser livre... mas também não me lembro de alguem se querer libertar das suas proprias amarras...
...comudismo..será?!

Caiê disse...

minhauuuuuffff. ;)

margusta disse...

Querida Ana,
...agora sim, já li os dois postse , gostei muito...perdi-me nesta divagação de Julien Passinhas.
Levo comigo uma frase que gostei muito... "É lindo saber que quanto mais pessoas me conhecem mais vezes eu sou."

Beijinhos Ana e um bom fim de semana!

Unknown disse...

It is your lucky day. I have been looking for a protege like you for some time...

Su disse...

gostei deste texto
fez.me bem ler

jocas maradas de cores

Alexandre o Grande disse...

A paixão que tens dá-te para isso..... e ainda bem. :)

vida de vidro disse...

Extraordinário texto! Abre-nos os olhos da alma. **

amigona avó e a neta princesa disse...

Parabéns pela partilha... gostei...

Arauto da Ria disse...

Olá Ana!
Fico feliz, por teres um amigo especial como Julian, que escreve muito bem e com ideias arejadas:
Espero que a paixão seja alimentada e resulte.
Estão bem um para o outro na escrita e em valores.
Um beijo.

susana disse...

Esse teu Julien é uma pessoa demasiado sensível, nunca será completamente teu, irá divagar sempre num mundo muito dele!Gostei do texto, mas deprimiu-me a fatalidade que ele encerra.Temos de pensar que há sempre uma janela e um sorriso à nossa espera.
beijos aos dois